26 de set. de 2014
O soberano
Há vida nestes ventos de primavera,
anunciando chuvas que agradam as roseiras.
Há vida nos galhos escuros e retorcidos do ipê,
que pela manhã inspiravam piedade,
já agora, com sua erupção de flores brancas,
inspiram sorrisos e carícias aos olhos.
É vida até mesmo esta dor,
este silêncio e ausência,
e este barulho incômodo vindo dos porões da alma.
Não são meus invisíveis sangramentos
que impedirão o desabrochamento da rosa negra.
Sim, eu amo.
E faz muito.
E este Amor não nasceu no longínquo e desimportante olhar.
Meu Amor nasceu comigo.
Nos primórdios do meu espírito enquanto ainda habitava o âmago de Deus.
Por isso ele independe de mim.
Ele alcança as pedras, as ruas, os poemas, as canções.
Ele veleja por mares e ares, livre.
Pois não sou seu dono, não possuo poder sobre seus atos,
sou seu súdito,
E meus movimentos são rendidos aos seus passos, às suas ânsias.
Meu Amor é intacto, imaculável.
Imortal. Indestrutível.
Evanescem as ilusões, como a bruma aos primeiros raios solares;
Decompõem-se utopias e quimeras,
apodrecendo,
fertilizam o solo que alimenta lírios e primaveras.
Mas o Amor não. Ele é infinito.
É poupado das fúteis regras e leis humanas.
Se sobrepõe, soberano.
Não necessita residir em castelos,
de nuvens ou de concreto.
É benévolo.
Reside em mim,
um quase nada.
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