3 de set. de 2014

Deserção


Repousa agora, alma devastada.
Tira dos ombros sangrentos e magros
os cadáveres do teu exército de sonhos.

Deita tua espada, descansa teu punho aberto.
É o fim.
Tuas armas sequer arranharam a grossa pele das quimeras.

Quimeras que lamberam tua carne com língua de aço,
com saliva ácida.
Quimeras que criastes.

Deixa o campo, deixa os mortos, deixa...
Por que ainda pousa teus olhos sobre esse vale de desgosto?
Não haverá mais vida em outro canto?

Insistes... criança tola. Não tens mesmo um pingo de orgulho!
Mas sei que ele nunca te fez qualquer falta.
Contudo, levanta teu queixo da lama que bebes, e segue.

Num outro lado deve nascer o sol.
Não há culpado para a luz ou para a escuridão.
Agradece por teu coração sangrar. Sinal que vive.

Esqueça a guerra perdida e as batalhas vencidas.
Esquece dos golpes tomados e das flores colhidas.
Esquece de tudo. Até deste conselho inútil.

Não esquecerá de nada. Bem sei.
Alma teimosa feito a vida!
Revive e revive os dias de frágil glória.



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