Havia um último resquício de recordação,
Recordação do trajeto, da busca, do caminho.
Um último resquício guardado, amassado,
Quase esquecido, no fundo da pequena caixa de papelão,
Uma caixa de memórias.
Um bilhete, uma passagem,
De onde eu voltaria,
Metaforicamente,
Apenas quase dez anos depois.
Não era amor, não apenas,
Era mais.
Era o céu, o ipê florescendo em fevereiro,
Era toda a imensa distância,
As estrelas cadentes e ascendentes,
Era toda uma trilha sonora,
As novas roseiras plantadas no jardim,
Era toda a esperança e poesia do mundo;
Era o último amor:
Que agora,
Nada é.
Então para junto dos discos,
Do suéter perfumado,
Do único anel de prata usado,
Vão os pequenos pedacidos de papel,
Dissolvendo-se também no mar ácido do tempo.
Mais um último adeus que floresce no gigantesco jardim de adeuses,
Mais um último poema,
Mais um último minuto silêncio,
Pelo que tanto prometeu ser.
Cessa enfim o poder da sua gravidade...
Nada entre mim e o espaço longo, infinito.
Mas eu me lembro de um último gesto de doçura
Onde me dizia que meu amago é que luzia
Quando eu acredita apenas refletir claridades distantes.
Agora vejo, é pouco, mas a cada desabrochar, a cada passo afrente,
O coração pulsa em luzes sutis...
Mesmo agora, principalmente agora,
Em que você não mais faz morada nele.
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