30 de jul. de 2017

Água sob a ponte



É nítida a impressão ou a certeza de que nenhuma nova fotografia substituirá aquelas apagadas, que congelavam no aroma do tempo um tempo mais doce que este.
Para onde foram seus sonhos? Em que areias, em que mares, em que amanheceres você abre seu sorriso agora?
Em braços mais macios repousa sua paz, eu sei. Éramos tão jovens e tolos... Desconfio que sempre seremos.
Você deve se lembrar que agosto sempre me deixa menos carne e mais espírito. Eu me torno a pequena e velha cidade vazia, por onde os ventos e a poeira arrastam folhas secas e as flores amarelas dos ipês.
Nesses anos não imagina quantas novas teorias e certezas inúteis eu aprendi. Quantos olhares que se apagaram junto do por do sol. Quantos sentimentos extintos por si mesmos.
Sei que é ingratidão minha, mas me deixe ser também sentimental.
Alguns nascem para ser ponte, outras para as águas que rolam por baixo dela. Sempre próximos, nunca juntos.
Não seria gentil seu olhar condescendente, mas sinto falta da sua delicadeza. Essa saudade me faz levemente sorrir.
Naquelas tardes em que eu parava o olhar no horizonte, como se meu coração fosse um grande e solitário vale, eu conseguia ver as luzes do mundo que cintilavam além dele.
Meus olhos abraçavam o presente e o futuro.
Talvez algo de mim ainda está como era, lá atrás, olhando com esperança para o que pode existir.

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