26 de jul. de 2016

Talvez amanhã



Talvez amanhã não nasça o sol,
Tudo fique amarelo e murcho,
Como se o mundo estivesse preso em um agosto eterno,
De parca vida e beleza.

Talvez amanhã meus olhos se esqueçam de ter brilho,
Minhas mãos desistam de acariciar a terra,
Minha alma não absorva mais qualquer poesia,
E se depare enfim com a realidade insípida que a assombra.

Talvez amanhã eu descubra que o amor
Não é nada além de uma mentira mal contada,
Um entorpecente escasso
Para consolar mentes em ebulição.

Talvez amanhã a vida perca definitivamente sua cor,
Seu calor, seu sentido.
Talvez amanhã.

Mas não hoje.

24 de jul. de 2016

Não posso sentir meu Amor



Desde sempre habitou no âmago criatura celestial.
Eu sentia seu calor dentro de mim,
Via sua luz saindo por meus poros,
Ouvia as canções que cantava.

Não havia nada que eu não faria para dividir meu Amor.
Eu caminhava por um mundo tão doce e puro.
Sem passados, pecados ou medos.
Sem distâncias.

Mas pousa em meus ombros uma escura noite fria.
Fantasmas gemem atrás das paredes.
Os sonhos não se sustentam muito tempo firmes.
As doces lágrimas de emoção não conseguem escorrer.

Eles me venceram.
A esperança, brava, foi a última a cair... mas caiu.
E eu já não volto meus olhos para as estrelas,
Agora que não posso mais sentir meu Amor.

13 de jul. de 2016

É quase agosto



Começou a morte do poeta quando cortou seus impulsos.
Há alguma fé na promessa do começo após os fins.
Há alguma fé... mesmo que esmurrada por dúvidas.

As ruas têm muita luz, poeira e perfume de laranjeiras,
E tanto eu sinto, tanto.
O coração, desnorteado, enjoa-me com sinestesias.

Cada caminho canta uma história antiga,
Lendas esculpidas por vozes de fantasmas insones.
Não ouso levantar a voz, dizer palavra.

Apenas observo com olhos ardendo, olhos cansados,
O destino traçando seus atalhos com descaso,
Abrindo meu peito sem misericórdia.

 É quase agosto...
E quero chorar a morte de sentimentos sagrados outra vez,
Mas a vida me recobra furiosa... ela ainda permanece aqui.

11 de jul. de 2016

Já não corre


Corre, o garoto perdido, busca braços macios;
Mas as canções silenciaram,
As doçuras são fingidas,
As belezas, sem encanto.

Corre, o garoto perdido, do destino;
Frio, duro, escuro,
Feito de escombros de sonhos de outrora,
Sem qualquer vestígio de vida.

Corre, o menino perdido, de si mesmo;
Das memórias insepultas,
Dos desejos insaciáveis,
Dos encontros inconcebíveis.

Já não corre, o menino perdido;
Para todo lugar, é o nada.
Nenhuma voz, nenhuma chama,
Nenhuma esperança.


#Penumbra

5 de jul. de 2016

Anjo caído


Sim, belo demônio,
Encantadora criatura dantes celestial.
Sim, eu disse sim.

Te aceitei em meu corpo e alma.
Flutuei contigo por auroras místicas,
Lindíssimas ilusões.

Sim, minha última chance,
A ignóbil memória não morre,
Mas a cada dia cheira mais mal.

Sou como tu,
Outro asqueroso anjo caído,
Rendido ao sabor agridoce das sombras.

Mas nada mais resta da tua santidade na minha carne,
Nada mais resta da minha própria santidade.
Somos agora homens marcados, sem reflexo.


Poema noturno


Qual o destino das palavras,
Lágrimas vertidas por mãos cansadas,
Soltas, ásperas, pálidas?

Silêncio...
Silêncio absoluto no peito
Acostumado a sinfonias,
A voz dos anjos.

Que difere o mundo chamado real
Do chamado onírico?
Ambos desabam ao mais delicado toque.

Meus olhos insones não brilham,
A beleza, antes seu afago,
Já não reluz...

É noite. Sempre noite.
Mas sem a magia, a doçura,
Apenas a escuridão.

Realidade


O que pode haver de glorioso
Em uma alma frágil que rasteja
Longe de qualquer resquício de luz?

Meu coração,
Aquele que abrigava calor nos invernos,
Frescor nos verões...

Meu coração,
Agora repousa, inerte, sóbrio,
Distante das quimeras que o alimentavam.

A noite é sempre noite,
O dia, sempre dia,
As palavras, meras palavras.

Já não resta imaginação para sustentar o encanto,
E talvez, nunca mais,
Outra carta de amor seja escrita.

Não há mais um jardim
Para poetas, amantes, sonhadores,
Apenas os braços fortes da realidade, sufocando-os.

4 de jul. de 2016

Lançamento online de "Microcosmo"

Meu nono livro, "Microcosmo" já está disponível no Clube de Autores pelo link: https://clubedeautores.com.br/book/212467--Microcosmo#.V3qSpFQrIdU, na versão física e digital, com 25 % de desconto até dia 10/07!
Enquanto houver quem necessite da poesia, a poesia resistirá!
Meu muito obrigado àqueles que mais uma vez me entusiasmaram a insistir em fazer o que tanto amo! <3


Foi um grande prazer compor este “Microcosmo”.
Entre canções favoritas, tardes de sol, madrugadas regadas a pensamentos inebriantes, embaladas pelo frio sutil do inverno, os sentimentos foram se condensando como nuvens e desaguando em forma de palavras, mansamente. Sem expectativas, sem medos, sem grandes sonhos, sem grandes decepções.
O sabor da essência que a alma guarda protegidamente foi o guia. 
Sorri com memórias, chorei com saudades. Fui ingrato e também olhei para o céu pensando em como a vida pode ser tão perfeita em todos seus detalhes.
A eterna contradição: a besta que busca o divino. Afinal, nós, seres brutos, inacabados, somos os que precisam crer no amor, lutar pelo amor. Nós, seres mesquinhos e escuros, é que precisamos buscar a luz.
“Microcosmo” é meu nono trabalho, que como os anteriores, nasceu sem pretensões; é mais outra criança correndo na chuva ou brincando com as flores dos ipês que cobrem os chãos de inverno.
Mas ao contrário do que possa parecer, quero bem mais do que apenas expressar meus sentimentos e sensações. 
Acho que a poesia tem um poder único. É uma força bela e rara de conexão.
Para mim é um prazer sem tamanho passar os olhos pelas palavras dos mestres e ver algo de mim, algo do que sinto ali. Fico maravilhado com a capacidade que eles têm de falar para almas e de almas que nunca chegaram perto. 
Então, este não é apenas um convite para conhecer o microcosmo de quem colocou estas palavras no papel, mas é um convite à comunhão dos nossos microcosmos. Dos nossos sentimentos. De quem escreve e de quem lê.
Existe uma série imensa de cores e sentidos a serem explorados, mas de alguma forma todos nós sofremos de um certo grau de “daltonismo” que nos impede de enxergar além daquilo que nossos olhos já estão condicionados. Mas podemos ver mais, ver adiante, dentro e fora de nós. Sair da estrada em que caminhamos sem questionar e olhar para os lados que ninguém nos mostra. Sim, estes poemas falam do medo, do amor, da perda, da esperança, da luz e da claridade, mas sua principal proposta é: o que tiramos disso? Que visão temos daquilo que essas coisas nos deixam? Como lidamos com elas ao longo dos dias?
A vida tem uma infinidade de cores, uma infinidade de sentimentos, e nós podemos ver mais, sentir intensamente cada um deles. Meu desejo é que estas palavras possam fazer algo para ajudar nisso.