A sensação é
a de um fim de batalha.
Alguns
membros ainda doem pelas escolhas feitas, pelos movimentos tomados.
Uma dor
estranha, porque é como se o ferimento fosse mais profundo e perigoso que o
incômodo que ele gera.
Há uma paz
branca agora. Silenciosa demais.
Uma
esperança sutil e quase imperceptível, como o verde das paredes.
Embora eu
saiba que não há tempo para descanso; outra batalha se aproxima; eu deveria
estar melhor.
Sorrindo
mais ou cantando mais ou qualquer coisa do tipo mais.
Mas não.
Sei que não
se vive com olhos voltados para trás, mas ainda olho as baixas no campo.
Olho a face
de cada Anjo e cada Demônio que das minhas entranhas saiu e que por mim lutou e
sinto um pranto gigantesco como uma tempestade se formando atrás dos olhos.
Eu os amava
tanto, cada um deles.
Mas as Lágrimas,
fiéis e queridas enfermeiras desta alma raquítica, não caem.
Mantêm-se
condescendentes, mas imóveis.
Elas sabem,
e eu sei: chegou a hora do adeus.
Chegou a
hora de nos despedirmos deste campo de batalha, que já fora um vistoso jardim.
Chegou a
hora de aceitar que os caminhos para os sonhos muitas vezes não são
pavimentados.
Escorregões
virão. Os sapatos se lambuzarão de lama. As roupas ficarão sujas.
As trilhas
serão inseguras, escuras.
Talvez num
desses caminhos o tombo venha, e junto dele o Medo e a Vergonha.
A Dúvida, a
ingrata e constante companheira, será a primeira a gargalhar.
Provavelmente,
além da morte, ela seja a única certeza da vida...
Doerá. Doerá
porque será desejada uma mão, e essa mão não estará ali.
Doerá...
Mas se a
queda é uma possibilidade, o levantar é uma certeza.
Talvez eu
até gargalhe um pouco com a Dúvida.
Levantarei,
mesmo com olhar baixo, e continuarei, mesmo com passos hesitantes.
Será mais
uma dor válida a ser lembrada.
Uma dor
guardada como uma pedra preciosa, uma consequente ao amor às coisas certas.
E depois de
tudo, eu sei, restará apenas uma coisa a ser dita ao campo, ao jardim, ao
caminho, aos Anjos e aos Demônios:
Obrigado, muito
obrigado, novamente.
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