8 de jan. de 2024

Foi há dez anos




Foi há dez anos 

Foi ontem 

E só na memória restam provas de tais épocas 

Profundas...

Como um oceano misterioso 

Onde repousam tesouros para sempre perdidos.

Em algumas tardes o céu se pinta do mesmo azul que habitava em seu olhar 

E há então um sopro morno e mágico de saudade 

Nada foi tão puro desde então

E nada será 

Pois por vezes eu volto de longas peregrinações até esse santuário 

E ainda repousa imóvel no altar meu ex-voto

Meu coração de pedras e flores 

Inerte, mas tão cheio de vida 

E eu tiro minhas sandálias pois adentro em solo sagrado 

Tiro minhas roupas pois já não causam vergonha as cicatrizes

Tiro as máscaras que camuflam meus pecados...

E o que resta, se não é belo, 

Ao menos tem um brilho verdadeiro.

Olho com doçura para essas paredes, para meu reflexo nos espelhos, para o sentimento materializado diante de mim

Uma brisa fresca sopra pelas janelas, 

Um ipê flori lá fora, uma rosa desabrocha, uma borboleta salta pelo ar

E eu começo a enteder, década depois, porque nunca parti por completo 

Aquele sentimento que já não pode mais possuir um nome

Trouxe à tona a mais bela parte de mim.