16 de dez. de 2015

Belo cárcere


Há essa algema ancestral,
Talvez criada junto da alma,
Ainda no útero de Deus,
Prendendo eternamente a disforme criatura,
Ao que de Belo seus olhos acalentam.

E toda perturbação da Beleza,
É um florete adentrando lentamente o âmago,
Constantemente, delicadamente, sem misericórdia.
Uma imensa agulha perfurando o coração apodrecido,
Preenchendo-o de uma vida já desconhecida.

Era por isso o escorrer das duas lágrimas pesadas,
Ao observar pequenas estrelas embaçadas
Num céu de negrume profundo.
Até o amor morre, maior ou menor, cedo ou tarde,
Mas a dor causada pela sua tão singular beleza ainda reluz, insistente.

A nada iludem ou servem palavras.
São pedidos de socorro em mar aberto,
São louvações a ouvidos surdos.
Mas elas insistem em jorrar, como uma fonte no deserto,
Sem quem jamais alguém prove do sabor real das suas águas.

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