12 de nov. de 2015

Acabou o amor


"É a lama, é a lama!"
Envenenando os corpos das nossas crianças,
As lavouras que nos sustentam,
O verde oliva da nossa esperança.
É a lama negra e torpe da ganância infindável,
Varrendo os sonhos para sempre,
Concretando os indefesos,
Concretando as lágrimas que já custam a cair!

São as portas abertas dos presídios nojentos,
Sem resquícios de humanidade,
Em que minha pobre lógica não erra em afirmar:
'Ali, só ladrão de galinha deve entrar!'
Porque mais monstruosos têm sido os que seguram canetas,
Engravatados e protegidos de toda justiça,
Do que o moleque bandido que impunha uma arma.

São os cadeados nos portões da escola,
Nossos gritos sufocados, nossas súplicas desdenhadas.
Acabou o amor, e isso aqui é o inferno!
Maculam nossa dignidade sem pudor ou misericórdia,
Como se não houvesse alma incrustada nessa carne minguada.
Acabou o amor, mas não a vida;
Não importa quão fortes sejam os desgraçados acima de nós!