Foi assim, em mais um sonho
confuso, em mais uma noite de sons estranhos sobre minha cabeça.
Como disse certa vez meu amor: ‘tudo que está ao redor você absorve para si.’
Sim, chovia; ainda chove. Por
isso o céu tão negro em meus sonhos.
Chove, e como sempre, ao
notar a água caindo dócil, ao sentir minhas meias molhadas dentro do sapato
igualmente molhado, ao sentir o perfume das flores amarelas que brotam em
longos cachos naquela rua antiga, também molhada, eu sinto o coração em chamas.
Eu sinto um chamado vindo não sei de que parte, não sei de quem.
Sim, se eu olho ao redor não
faltam sinais.
Há a luz do sol que deixa as folhas das árvores verde-esmeralda,
os pássaros em sua rotina de liberdade, as pequenas borboletas embelezando os
ares.
Se eu olho ao redor, eu vejo as crianças correndo e rindo despreocupadas, o que me faz recordar a minha criança que persiste viva, também correndo e rindo despreocupada.
Porém, desta vez, não é
externo, é de dentro que essa voz vem. Eu sei.
São de dentro para fora que vêm brotando esses milagres.
E embora eu há muito tenha desistido de dar qualquer definição a Deus, eu sei que é uma parde dele aqui dentro.
É minha ligação sutil e vital com ele que me conecta às coisas que ele criou.
Nesses momentos meus olhos mergulham em minha alma que escorre.
Eu me esqueço do que é mesquinho, egoísta, pequeno, em mim e no mundo ao redor; eu olho por cima, eu subo às alturas, como que convidado pelos anjos, e por um ínfimo e magnífico instante vislumbro o semblante do Divino Mestre.
E ele me sorri.
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