23 de set. de 2025

Tempestades

 



Na manhã seguinte à voraz tempestade seca 

Deita sobre a terra uma bruma fria como que curando 

Os arranhões deixados no solo e no espírito 

São sempre tempos áridos por aqui 

Mas às vezes ainda chove 

E a raridade de alguns acontecimentos os tornam quase milagres 

A gente que tem a alma assim fica sempre procurando algum fio de esperança 

Nessa imensa e confusa tapeçaria divina que não conseguimos entender ao todo

Eu sei que algumas coisas importantes não estão mais se encaixando em seus devidos lugares 

A fé, a palavra, o amor 

Coisas que eu sempre pensei serem sólidas 

Mas que são mais como um rio

Que fluem livres em direção a algo muito maior, muito mais incompreensível 

Isso traz certa angústia 

E certa paz

Os botões das camélias mais uma vez secaram e caíram 

Enquanto ao redor o jardim permanece resistindo, florindo 

O coração dentro do peito a cada dia se parece mais com uma armadura impenetrável 

Enquanto protege e aquece uma criança em seu interior que nunca deixa de sorrir e cantar.

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