Na manhã seguinte à voraz tempestade seca
Deita sobre a terra uma bruma fria como que curando
Os arranhões deixados no solo e no espírito
São sempre tempos áridos por aqui
Mas às vezes ainda chove
E a raridade de alguns acontecimentos os tornam quase milagres
A gente que tem a alma assim fica sempre procurando algum fio de esperança
Nessa imensa e confusa tapeçaria divina que não conseguimos entender ao todo
Eu sei que algumas coisas importantes não estão mais se encaixando em seus devidos lugares
A fé, a palavra, o amor
Coisas que eu sempre pensei serem sólidas
Mas que são mais como um rio
Que fluem livres em direção a algo muito maior, muito mais incompreensível
Isso traz certa angústia
E certa paz
Os botões das camélias mais uma vez secaram e caíram
Enquanto ao redor o jardim permanece resistindo, florindo
O coração dentro do peito a cada dia se parece mais com uma armadura impenetrável
Enquanto protege e aquece uma criança em seu interior que nunca deixa de sorrir e cantar.
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