15 de mar. de 2021

10/03/2021


Março nasceu entre céus escuros e isolamentos ainda mais duros. 

E até nos dias de sol abundante e de insistente canto de pássaros, parece não haver claridade, não haver melodia. 

Mesmo os insensatos sentem algo errado dessa vez. As ruas não sorriem, os olhos não brilham, e há pouco me foi dito que perdemos também o direito ao medo. 

Então o olhar busca no fundo do horizonte um fragmento azul que prenuncie tempos mais brandos.

Em versos encontrados ao acaso, a poetisa me diz que a primavera chegará, mesmo que ninguém possua jardim para recebê-la...

Mas procuro insistir na semeadura para que ela saiba que eu ainda a espero, ainda me importo. 

As flores já não serão as mesmas, delicadas e efêmeras, sucumbirão às águas e ao sol; os versos também já não são os mesmos. Não há tanta saudade ou tanta esperança para que tragam do que adormece no fundo da alma alguma emoção. 

Mas procuro insistir na semeadura...

Para que se um dia os sorrisos forem livres e as mãos acessíveis de novo, eu tenha uma colheita a oferecer. 

Pois como as tais sementes, ainda que inerte, o coração permanece cheio de vida.

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