Soa tão estranha a possibilidade de ter aquele mundo de volta.
Reabrir os portões enferrujados de um infinito que há muito tranquei.
Ouvir todas as canções que foram escondidas, enterradas bem fundo.
Sentir novamente sensações que adormeceram silenciosamente, dia após dia.
Ver as tulipas brotando ao derreter da neve...
Ver os galhos aparecendo ao cair das folhas...
Ver as flores que mais amo murchando, morrendo...
Ver sementes caindo no solo seco, duro, quente...
Ter todos os sentimentos enlouquecidos e libertos.
O coração, quem diria, continua quente e bate e roga e acelera, mas também quase para.
"Aqui vem a chuva novamente...
Caindo sobre minha cabeça como uma memória.
Caindo sobre minha cabeça como uma nova emoção."
A solidão, companheira gentil e elegante, dá leves batidas na porta.
A esperança valsa no meio do salão.
O medo adormece, entorpecido, numa poltrona empoeirada.
O amor se despede, diz que partirá ainda esta noite, mas fica para mais uma bebida, e mais outra, e mais outra...
Peço então que todos deem espaço, levanto-me e caminho como que reconhecendo um caminho que sou eu mesmo.
Toco as flores que sou, e os espinhos que sou, e os perfumes e os azedumes.
Toco fundo, como se não doesse tanto, penetro, perfuro.
E no fundo, bem adentro de tantas camadas, não há nada...
Não há nada além de muito sentimento, muito sentimento inominável.
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