31 de mai. de 2025

Sismógrafo




Esse sismógrafo alojado no peito 

Atento às menores oscilações 

Aos menores tremores 

Feito de um cristal puro e delicado 

Sensível aos sutis silêncios 

Às ásperas palavras 

Gravando na alma o gosto amargo 

Do novo adeus 

Tão idêntico a todos os outros adeuses

Que desafiam a lógica 

E chegam sempre antes do encontro 

E tudo se repete 

A agulha risca a pele 

Cria sulcos profundos 

Para cima e para baixo 

E assim outra vez me perco 

E procuro por mim 

Nas mesmas canções gastas 

Nas mesmas ruas frias de outono 

Nas mesmas estrelas sempre cadentes

Nos mesmos perfumes que logo evanescem

Nos mesmos poentes pálidos

Nos mesmos braços que nunca 

Nunca me estarão verdadeiramente abertos.

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