19 de jan. de 2025

Você pode



Se eu pudesse

Eu traria de volta aquelas palavras 

Que eram como gotas de cura 

Ou traria o silêncio 

Que mesmo sendo frio e dolorido 

Era belo e puro como um diamante 


Se eu pudesse 

Eu mesmo seguraria sua mão

Através dos dias sem fim

E ela nunca mais tatearia na escuridão 

Buscando a porta de um abrigo 

Que nunca existiu 


Se eu pudesse 

Eu perdoaria seus pecados 

E te ajudaria a semear sonhos

Ao invés de culpas 

Te ajudaria a ser forte

Ao invés de pedir socorro


Se eu pudesse 

Eu te amaria mais

Para que esse amor bastasse 

Para que a falta de nenhum outro amor doesse

Para que você sentisse que na verdade 

Tudo isso, você pode.

12 de jan. de 2025

Te tola e bela forma

 

De tola e bela forma

Vejo-te tentar construir novos sonhos 

Sobre escombros pontiagudos 

Que nunca se dissolvem

Que nunca desaparecem 

Quase feito uma criança 

Que se esqueceu de perder a esperança ao crescer 

O espírito diz então que ainda é cedo 

Enquanto a mente diz que já é muito tarde 

E você apenas tenta fugir da guerra ininterrupta 

Entre a fé e o medo 

Tentando se refugiar em memórias etéreas 

Em promessas que não se cumprirão...

2 de jan. de 2025

Uma versão sua



Existia uma versão sua 

Que sabia tão bem sorrir e amar 

Ainda que com dentes tortos

Ainda que com amores ilusórios 

Uma versão sua 

Que sabia tão bem 

Dançar e cantar 

Ainda que errando os passos

Ainda que desafinando o tom

Uma versão sua que já quase não se mostra 

Que quase não existe

Mas que em algumas tardes

Quando a luz do sol incide sobre os escombros de tempo 

Que foram se acumulando cruelmente sobre você 

Essa sua parte brilha lá no fundo 

Entoa uma canção sobre estrelas e heróis 

Ensaia alguns movimentos tímidos 

Arrisca mais alguns versos

E diz com uma voz tímida 

Que sim

Talvez os escombros já sejam pesados demais para serem removidos 

Talvez muita coisa não consiga mais ser curada 

Porém 

Uma nova versão pode enfim nascer 

Ainda maior e mais forte

Uma versão sua que o tempo não irá soterrar 

Uma versão sua que sabe

Que a luz no fim do túnel 

É você mesmo.

1 de jan. de 2025

É preciso

 

A cidade ainda dorme 
De certa forma
Um sono justo 
Como os advindos 
Do após de grandes batalhas 

A cantoria dos pássaros é amena
Ecos solitários de uma alegria fugaz 
Delicados como pequenas orações confusas 
As nuvens movem-se em calmaria 
Ocultando aos poucos a luz clemente 

É preciso que se fale sobre a esperança 
Sobre a paz
É preciso que se fale sobre reconstruir o que foi quebrado 
É preciso que se chore rápido pelo que partiu 
Para que se sorria para o que vai chegar 

É preciso que se agradeça 
Que se louve 
Que se abrace 
Não é preciso muito...
É preciso que se ame.