30 de abr. de 2019

Ainda vive



Ainda estava tudo em um santo repouso no fundo de uma alma envolta em penumbras. 
Mesmo o que havia morrido, em partes, ainda vivia. 
Eu sentia enquanto desconhecidas canções tentavam resgatar algum resquício do meu amor pela esperança. 
Era uma tarde de domingo qualquer. Sem memórias, sem expectativas, apenas com o sol deitando suas luzes pelas frestas dos muros e dourando algumas flores simples do jardim. 
Ainda assim era tanto, tão raro, tão precioso. Era vivo.
E os olhos quase jorravam, como naqueles dias espetaculares que eu tirava para perdoar a mim mesmo, para enxergar a minha própria claridade. 
Me escondi das palavras porque tudo o que procurou fazer morada em meu coração foi a aridez bruta desses tempos insanos. Como poderia ser diferente?
Mas há de haver uma trégua, um momento onde o olhar pode se dirigir para o céu em que a primavera lança suas primeiras flores. 
Sejamos nós, talvez, pequenos oásis nesse imenso deserto de corações letárgicos, quase mortos. Sejamos nós a brisa, o perfume sutil. 
Sejamos nós os que, de alguma forma, ainda acreditam.

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