11 de jul. de 2012

Para sempre



Se pudesse levar-nos-ia àquele passado já tão passado.
Porque queria, não só sentir novamente – relembrar, mas também fazer-te sentir.
Sentir o cheiro da pitangueira florescida, o cheiro da mangueira e da jabuticabeira toda pretinha.
Queria te levar até lá encima, no galho mais alto, donde dava pra ver o sol se ponto atrás dos canaviais rosados de tanta flor.
Comer fruta ordinária do mato, balançar no cipó, procurar lebres na florestinha.
Resto da rapadura no taxo, já provou?
Sei que não...
O pai sempre guardava pros filhos essa quase iguaria – a lembrança mais doce que carrego dele. Esse sim, o verdadeiro doce de cana.
E sorvete de abóbora? Só a vó Landa sabia fazer, e fazia tão bem.
Que pena que você não teve a oportunidade de prová-lo.
Eu fico pensando: o que eu era que não sou mais?
Será que a gente vai se esquecendo mesmo pelos caminhos?
Ou é só a vida que não vai deixando nem um espacinho pra gente ser o que realmente gosta de ser?
É que eu queria já te ter comigo quando pela primeira vez abracei o céu.
Queria você perto quando começaram minhas quedas,
Pois contigo, eu sei, eu jamais teria me deixado cair de tão alto.
E eu digo tudo isso é pra me lembrar, sim.
Lembrar que já houve silêncios, levezas e sabores.
Lembrar que tudo o que mais fiz foi esperar por você,
Mesmo quando eu ainda não sabia pelo que ao certo esperava.
Eu digo tudo isso para que você saiba dos milagres que ainda podemos desfrutar.
Eu digo tudo isso para que continue a existir tudo o que existiu;
Para que eu continue e te esperar, ansioso, para sempre;
Mesmo sabendo que já – e para sempre – tenho você aqui.

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