3 de ago. de 2025

Como não fazer poesia?



Como encontrar poesia,

Se não longe falta-lhes o pão, o pai, a água, o irmão?

Como fazer poesia,

Se deitado em cama confortável 

Os vejo abaixo dos escombros, 

sendo escombros?

Como sentir poesia,

Se caminho por um jardim florido, luzindo ao sol ameno de inverno,

Enquanto eles rastejam entre ossos e poças de sangue inocente?

Como cantar poesia,

Se as palavras apenas ecoam por uma casa silenciosa, vazia,

Enquanto eles se aglomeram sob trapos rasgados pelos ventos ferozes da indiferença?

Como não fazer poesia...

Diante do horror e da barbárie,

Para que aqueles melhores que virão após nós 

Saibam do nosso desespero 

E covardia.



(Imagem retirada da internet)

2 de ago. de 2025

02/08



Varria folhas lembrando vagamente da despedida do último grande amor

Era também o segundo dia de um agosto qualquer 

E onze anos depois a maior dor já não dói 

E machuca menos que esse vento que insiste em atrapalhar meu trabalho desimportante 

A moça estava certa

Realmente o tempo tira tudo do centro das atenções 

Embora não cure nada 

E já não resta tanto a dizer

A não ser a repetição tola do que a ninguém importa 

Mas agosto evoca palavras calmas

Torna os dias mais passado que presente 

Banha o jardim de uma luz opaca e macia 

E sopra no coração um quase desejo de ser feliz outra vez.