5 de ago. de 2013

Bons sonhos


Meus demônios disseram-me que quando não se luta por nada se é vencido por tudo.
Odeio quando meus demônios sabem mais de mim do que eu mesmo.

Já não são suficientes doces sonhos, ou as flores perecíveis dos ipês ao sobreviverem ao inverno.
Já não são suficientes as folhas arfando e crepitando abaixo dos meus passos lentos enquanto observo uma cidade morna, morta e pegajosa pelas janelas cansadas da alma.

"Escolha um desses caminhos:" Dizem-me os demônios.
E nem um deles me serve, nenhum deles faz sentido para mim.
"Todos escolhem um desses caminhos." Insistem os demônios.
E eu apenas observo, caminhando lentamente de costas, sentindo todas as ultrapassagens, sentindo todos os adeuses.
Deram-nos todo o poder do mundo. Asas e controle sobre os elementos...
Mas não deixaram a chave da jaula. A chave proibida.

Eu não sinto medo.
Eu continuarei retirando uma a uma as pragas das flores, mesmo das que morrem rápido, mesmo das que jamais serão perfumadas.
Não escolherei mais nenhum culpado por meus afogamentos.
Ninguém criou meu oceano negro e infinito além de mim, ninguém me salvará das águas dele além de mim.

Quem sou eu para discordar de um sistema tão impecavelmente falho e aceito?
Quem sou eu para dizer que todos morrem por guerras eternas e sem valor?
Quem sou eu para falar da estupidez humana?
Todos também são vazios.
Todos também querem o amor verdadeiro.
Todos estão perdidos.
Todos sabem de todas as coisas.
Todos estão bem assim.

Mas já é tarde. 
Volte a dormir agora.
Foi só mais um pesadelo, com a diferença de não estar dormindo desta vez.
Bons sonhos.

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