27 de jul. de 2013

De volta


Que saudade dos belos poemas... aqueles que passavam flutuando, tão leves, pela janela... como nuvens de janeiro.
Os chamo de poemas, mas bem sei que não o eram. Nunca foram.
Eram meus próprios fragmentos desprendidos e carregados pelo vento.
Agora abro a janela e tão pouca coisa passa por lá, e eu vou sentindo essa falta tão grande de mim.
Falta daquele eu iludido com as claridades efêmeras e passageiras do crepúsculo, mas um eu persistente na fé de coisas verdadeiras, de coisas intensas.
Comecei um novo jardim. Preciso que as flores me ensinem novamente sobre a paciência de aguardar as primaveras.
O jardim é humilde, sem nenhuma suntuosidade ou promessa de glória, tal e qual o jardineiro que o cultiva.
Mas quando eu abro a porta do fundo nas manhãs frias de julho e vejo um mísero broto lutando para crescer embora as dificuldades do clima, eu sinto uma esperança tão morna e macia abraçando meu peito gélido e magro.
Eu vejo a vida lutando... lenta, meiga, pacífica; persistindo.
Esses milagres tão delicados vão me salvando... vão me bastando.
Vejo Deus nessas tentativas; tentativas tão delicadas e pequenas quanto as minhas.
Um botão que desabrocha preguiçosamente me faz recordar do amor que eu sentia antes de amar,
Um sentimento unilateral, quente e intenso... belo e transitório como as florações.
Estou de volta ao jardim. Eu, Deus e os pássaros.
Estou indo de volta a mim, em busca das cores e perfumes que ainda podem existir aqui.

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