Eu continuo acreditando que no fundo ainda existo em mim.
Continuo acreditando que as últimas estiagens, passadas ou
não, não foram longas o suficiente para minguar meu Jardim.
Mas será?
Será que quando as chuvas voltarem junto ao verão;
Será que quando os pesadelos partirem;
Será que quando os medos forem menores;
O coração será menos frio e denso?
Por quanto tempo conseguirei continuar consertando as coisas
que se quebram?
E essas minhas palavras natimortas? Porque insisto em parir
esses pedaços de mim?
Se ao menos servissem de adubo para um novo Jardim...
Confesso que não sei se posso e quero ser o que precisamos
que eu seja.
Se não tivéssemos que provar nada a ninguém o mundo seria
muito mais verdadeiro...
Se não tivéssemos que impressionar ninguém o mundo seria
muito mais belo...
Já me acostumei com as janelas fechadas,
Com o gosto amargo nos lábios finos,
Com o cabelo desarrumado.
Já me acostumei em dizer ‘tudo bem’ quando você não vem.
‘tudo bem’
Está sempre tudo bem, mesmo quando não.
Pois no começo podemos ser frágeis, dóceis, indefesos;
Mas não para sempre.
Em algum momento é preciso crescer.
Em alguma linha a poesia tem de terminar.
Em algum instante as feridas têm de cicatrizar, estejam elas
ainda latejando ou não.
Em algum ponto, por mais bonita que um dia tenha sido, a
magia deve partir e ser substituída pelo prático, pelo razoável, pelo real.
Como se tudo isso fizesse da vida, da carne, do caminho,
algo menos penoso.
Mas eu espero que um dia, um dia não muito, ou muito,
distante,
Eu ainda esteja aqui.
Mesmo que soterrado por toneladas de bobagens que deixei se
alojassem em minha alma.
Que eu ainda me encontre e que eu ainda possua luz, que seja
leve e principalmente:que eu ainda seja eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário