9 de abr. de 2012

Fio de Luz

Como dois poços profundíssimos, em cujos fundos repousam o brilho da luz de uma vela; estes estão meus olhos.

Dois círculos negros, com uma janela aberta ao nascer do sol cada, bem ao centro.

E nesta tarde, a própria escuridão tamanha do meu espírito torna minhas reles faíscas de claridades muito mais evidentes e deslumbrantes. Ao menos para mim mesmo. Quem sabe, talvez, para algum outro ao redor.

Porém não minto, tenho sim espírito de sombras.
Tenho pele frágil, coração fraco.
Mas tal qual rocha feia e fria, tal qual qualquer outro um; pode haver, deve haver, tem de haver, algo de valor incrustado no âmago. Em meu, no seu, âmago.
Que seja esse mísero fio de luz incandescente.

Estou de pé agora, ouvindo novas canções, saboreando um doce carinhosamente oferecido, lembrando que todas as manhãs, na primeira esquina em direção ao trabalho, existe um campo com poucas árvores, com o chão coberto por flores simpaticamente azuis, esta visão é como uma prece sem palavras. Estou de pé agora, lembrando da imensa paineira toda, toda florida nesse início de outono (esta que fica algumas ruas abaixo do campo de flores azuis)
Estou de pé agora... e é linda a paisagem daqui de cima.
É certo que esta claridade não durará, assim como aquela escuridão não durou.
É certo, porque nem as rochas são eternas; são elas esse pó que se acumula sobre nossos móveis e sonhos.
(Só o que é feito de amor e por amor o é, e mesmo assim somos miseráveis diante da imensidão dele. Quantas vezes, ainda que completamente imersos nele, nos damos ao luxo de sentir dor.)
E não, não estarei mais forte quando a luz apagar, não estarei menos assombrado pelos fantasmas que nunca se despedem completamente.
Não, porque raras vezes o que não nos mata nos torna mais fortes. (Esse é um ditado bobo, como todos e quaisquer outros ditados; termos fortes, pouca verdade.)
Não raro, o que não nos mata, nos fragiliza.
Porém, por outro lado a fragilidade é uma benção.
A fragilidade recorda os humanos a importância de se ser Humano.
A fragilidade nos torna lentos e lentidão nos faz pousar o olhar sobre o pequeno, sobre o detalhe, e grande parte das vezes os detalhes são os sorrisos de Deus.
E acredite, não há nada mais belo do que ver Deus sorrindo.

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